Máscaras e máscaras
- Nino
- 7 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de mai. de 2020

Não se trata da histórica tradição do uso de máscaras e fantasias pelos foliões dos carnavais desfilando na Praça de São Marcos, em Veneza, em meio a Colombinas, Arlequins e românticos Pierrôs. Tampouco se trata das máscaras que usava Don Juan, o inveterado sedutor, em seu ritual de conquista, em busca de sexo ou na procura da beleza interior das mulheres. Muitas pesquisas, teorias, versões e interpretações foram e são debatidas, sobre este personagem e seus métodos, por críticos literários, filósofos, psicanalistas, historiadores.
O tema que hoje ouvimos, e que atentamente leio, observo e discuto, é o da qualidade e da escassez das máscaras protetoras de um tal de vírus. Qual o tipo de tecido? Qual sua duração? De outros, mais cricris, porém certíssimos, ouço falar da eficiência de retenção versus a porosidade (se macro, meso ou miliporos), da tela ou tecido. Qual seria a distribuição de tamanho dos bichos a serem retidos? Se é ampla, desde micrômetros, até talvez nanômetros (< 1 micrômetro)? Pouca informação e muito blábláblá....
De tantas análises e debates sobre o assunto, me lembrei da minha infância e da incrível fantasia dos filmes de faroeste, dos meus quadrinhos e heróis preferidos. Em particular, fui como a maioria da rapaziada da antiga, fã do Zorro, Cavaleiro Solitário ou Justiceiro Mascarado*, que havia sido salvo de um massacre, sei lá como, pelo índio Tonto (nunca entendi o porquê desse nome), que acaba se tornando seu ajudante fiel. Usando uma máscara preta, ele viaja com o Tonto pelo oeste americano em busca de justiça, encarando os criminosos. Eu adorava tudo isso e o uso de uma máscara era algo mágico, e enigmático, que temperava as mil histórias que inventava, com meu cavalo de pau, com o nome de Silver-alooooooooo Silver....
But, tinha um pai “estraga-festas” que tentando, como sempre, uma polêmica comigo, me perguntou o porquê do nome de Zorro (raposa em espanhol) e não guaxinim, quati ou mapache, bichos todos mascarados? Porque era cavaleiro? E como era solitário, se andava sempre com um índio? Ainda me disse que o verdadeiro Zorro era outro, que tinha uma capa e não usava revolver, e sim uma espada fina ou rapineira, também era um cavaleiro, mas não tinha um amigo índio, e sim um servo careca e mudo de nome Bernardo. Contou que seu fiel cavalo não era branco, e sim negro, chamado Tornado. Seu chapéu não era branco, e sim levava um “sombrero” cordobés negro, da Espanha **. Que era um jovem rico advogado e usava máscara para proteger sua identidade (Diego de La Vega) na luta contra a tirania espanhola, na Califórnia. E usava a rapineira para esculpir nos muros, o "Z”, de Zorro, pelos seus trunfos contra seus inimigos derrotados. Ou seja, ele conseguiu me dar um nó na cabeça-esse era o Ilmo. Sr. Jorge Antonio Rubio, meu pai, hábil, inteligente, contador de histórias e muito “Tenório”....
Como sempre, fui salvo pela minha mãe Blanca (aquela das moléculas-outra história), que ternamente me contou que isso não importava muito, que o importante era a luta de dois personagens chamados de Zorros, de épocas e lugares diferentes, contra a prepotência e injustiça dos tiranos; eles eram contra a desigualdade e o abuso do poder em cima dos desvalidos. Que correspondiam a mitologias distintas, porém unidas pela busca da justiça, lutando fora dos cânones permitidos pela lei, e daí o uso da máscara. Não entendi muito isso da mitologia e aquilo da lei, mas fiquei quieto, fui em frente; era a doçura da minha mamita falando.
Os anos passaram e hoje assistimos ao uso das máscaras, sempre na linha de frente, para o bem ou para o mal. Umas, que são invisíveis, são utilizadas por sinistros usuários de teclados, covardes "mascarados" das Fake-News; outras mais longas, cobrindo cabeça, nariz e boca, usadas pelos desesperados fundamentalistas***; outras empregadas pelos “indignados”, os que lutam na rua pela falta de equidade e justiça social ****. E mais premente, angustiados todos aguardamos o fornecimento delas para o exército de valentes enfermeiros (as), médicos (as), técnicos (as) de limpeza e desinfeção, que mantém combate direto contra o inimigo de turno, o vil multi-exterminador vírus de 2020.
Nesse cenário, precisamos mais de Zorros, ou Guaxinins guerreiros, nestes absurdos entraves de nossos tempos, contra doentes antidemocráticos. Também são necessárias muitas, mas muitas mais Blancas, para nos trazer a tranquilidade e a ternura, muito em falta, nos dias de hoje.
Nino-abril de 2020
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