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Dourados e prateados....

  • Foto do escritor: Nino
    Nino
  • 11 de abr. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de mai. de 2020


Sua vida de nômade o levou a montar uma casa “diferente” no Brasil com “sobras” de emoções passadas, onde podem se encontrar eletrodomésticos e cortinas “home made”, algumas querendo se aposentar, móveis antigos, luminárias de ferro velho, tudo artesanal, sem artefatos nem enfeites dourados ou prateados. Mas, como decorar uma casa “certinha” visando sua venda lá na frente? Como? Se a estratégia era a transitoriedade pelo mundo, naquele constante “cair fora” quando o tempo piorar!

A tática, portanto, passava por uma alternativa de casa sustentável (esta palavra salva muito) e sem pensar nos compradores de casas, pequenos burgueses que gostam de douradinhos, prateados, goldies, com muito metal!

Viveu a época do festival de Woodstock, foi contra a guerra no Vietnã, da cultura paz e amor dos hippies and the like. Foi forjando sua “estrutura” na rua e principalmente nas Universidades, das quais ele fez suas casas, nas bibliotecas, laboratórios e cassinos. Sempre morou e trabalhou, muito feliz rodeado de colegas, alunos, pubs, festas, performances, teatro, cine, congressos, seminários, etc.

De uma Universidade para outra, conheceu muitos lugares e acabou acreditando na proposta do homem novo no Brasil, em Porto Alegre, com um inverno frio, como no seu país natal. Trouxe seus pertences em navio, principalmente seus superprotegidos pôsteres de Neruda, Che Guevara, Victor Jara, Jimi Hendrix. As fotos gigantes das cidades de Berkeley, London, do Imperial College e do Cemitério de Marx (área norte).

Bugigangas e artesanato de sul-américa marcaram presença na sala; eram pelicanos, índias carregando crianças, “llamas”, “vicuñas” e condores fazendo a festa por todas partes; uns pendurados, outros fazendo pose. O único metal que fazia parte do contexto era o cobre, na forma de sinos, “copihues”, galos e panelas...

O tempo foi passando e, para surpresa de vários, incluído ele, foi ficando-foi ficando; a casa enchendo de livros, discos (muitos “long-Play” 33 rpm); árvores, folhagens, um pátio legal; uma coleção de óperas, seu filme favorito, sob sete chaves: Picnic, estadunidense de 1955. A Universidade crescendo, formando RH e publicando muito; o filho nasceu, vento em popa.

Logo continuou abrindo espaços, melhorando o rosto da casa e, principalmente, o aconchego dos lugares de leitura, suas fotos e lembranças com emoções e ilusões. Os livros amontoados em prateleiras reforçadas e não aquelas que pediam ajuda, tipo sebo. Como viver 200 anos para ler essas belezas? A casa ficou com um maior tom de vendável, porém sem abrir mão da proposta inicial; bonita estruturalmente e integrada a suas “antiques” e coleção de latas.

Nesses espaços, leu seus comics (some hardcore) de Manara, Prats, Crumb e Frank Miller, que mostram de forma direta o que normalmente se esconde; logo fez uma coleção de Charles Bukowski (as cartas dele são excelentes) e teve tempo para acompanhar a saga desse polêmico "franchute" Michel Houellebecq. Descobriu nele uma afinidade pelos contemporâneos; os clássicos ele lia somente quando ficava doente.

Passou a gostar de escritores debochados e virou torcedor da novela negra ou, segundo ele, romance policial negro ou de denúncia desta emaranhada vida (principalmente a sócio-política urbana).

Acredita que se trata de uma excelente e rápida forma de denunciar/mostrar os podres da sociedade. O mundo “ibero-americano” abre espaços nesta linha para novos autores, que nasceram em meio a ditaduras, corrupção, tráfico de armas e drogas mil. Virou fã de Padura, Piglia, Ronka, Mendoza, Camillieri que ajudaram a aprofundar conceitos, entre outros, a entropia/grau de liberdade, a práxis e a dialética.

But, pensa ir embora para continuar esses rumos ciganos, alegando que voltaram os bandidos das trevas e assaltaram o Brasil. Momentos de consolidação de uma massa consumista sem qualquer ideologia que, desnorteada, se foca exclusivamente no mercado. Se multiplicam e escolhem o poder da força para o controle, entre outros, das políticas públicas, da ordem social, da educação e dos avanços sociais. As redes midiáticas magnificaram o ódio e hoje a verdade, isso mesmo: a verdade, a ética e os valores já não valem muito.

Hoje tem, de novo, visita da imobiliária número 14 e constata que está difícil vender a casa, linda, porém sem dourados ou prateados!

Nino

Abril 2020

 
 
 

1 Comment


Renato Dantas
Renato Dantas
Apr 23, 2019

Uma vida dedicada ao orgânico, ao vivo e ao anti-conformismo! Novos ciclos e projetos, mas ainda não perdemos o guerreiro. Sem pratas e ouro, mas com penas e nanquim, construiu uma legião de novos agentes de transformações sociais e promotores da inovação. Obrigado, Nino!

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